quarta-feira, 14 de março de 2012

Gabriel Braga Nunes se destaca por construir personagens na prática


Márcio Maio

Gabriel Braga Nunes foge do lugar-comum. Normalmente, os atores adotam um discurso mais defensivo ao protagonizarem uma novela. Já ele se mostra seguro e confiante: no lugar dos batidos discursos de responsabilidade grande ou intenso laboratório, prefere mergulhar no texto e na rotina da novela para construir, aos poucos, seu personagem - no caso, o rústico Carlos de Amor Eterno Amor.
Na trama de Elizabeth Jhin, o ator vive o filho perdido de Verbena, interpretada por Ana Lúcia Torre, que possui o dom de acalmar os animais. E ele garante: não se preocupou com qualquer tipo de preparação para as cenas.
"No lugar de ficar em casa lendo e pesquisando como seria um domador, preferi chegar no Pará para gravar e já fazer isso. Quando se ganha um papel como esse, ou você confia na equipe ou não funciona", argumenta Nunes, hoje um defensor da teledramaturgia.
"Me formei sem pensar em televisão. Agora, no entanto, é o meu veículo preferido. Não tem repetição ou rotina, como no teatro", justifica.
Confira a entrevista na íntegra a seguir:
Terra - Entre Insensato Coração e Amor Eterno Amor você ficou muito pouco tempo de férias. O que o fez aceitar logo fazer outra novela?
Gabriel Braga Nunes
- O que mais me chamou a atenção nesse convite foi sair do vilão e fazer o herói, um contraste forte em tão curto espaço de tempo. São personagens diametralmente opostos. Nunca interpretei esse tipo de pele queimada, chapéu, meio caubói, sentado no cavalo e galopando. Além disso, a previsão é que a gente não ultrapasse 150 capítulos. Eu também sempre admirei o Papinha (Rogério Gomes, diretor). Tinha vontade de trabalhar com ele, fiquei impressionado com o sucesso de Escrito nas Estrelas, última obra da Elizabeth Jhin (autora,) e também desejava dividir cena com a Andréia Horta, que já estava escalada. Ela fez Alice, na HBO, junto com a minha mãe (a atriz Regina Braga) e fiquei extremamente fascinado com seu talento.
 
Terra - O Carlos tem uma ligação grande com os animais, fazendo com que você grave muito com eles. Como tem sido essa experiência?
Gabriel -
Até onde eu recebi o texto, o Carlos tem uma facilidade no trato com os bichos. E é claro que, quando a gente está gravando, os animais não são dirigidos tão facilmente quanto a gente gostaria que fossem. Passamos por alguns imprevistos, é normal, até por serem cenas mais demoradas. Não é fácil você falar para uma onça "para aqui" ou "para ali". Mas não tenho medo, decidi confiar. Até porque fazer um personagem como esse e não se entregar à equipe não seria possível. Já aconteceu, por exemplo, de eu tomar coice, cair do cavalo, mas nada grave ou sério. Inclusive diversos desses pequenos acidentes foram incorporados à novela, já que fazem parte da rotina de uma fazenda.
 
Terra - Essas sequências com os animais têm sido sua maior dificuldade até agora?Gabriel - A minha maior dificuldade é o calor. O Rio de Janeiro - principalmente nesta época do ano - é muito quente. E esse é um personagem que vive basicamente de externas, eu quase não faço cenas de estúdio por enquanto. Além disso, como um bom paulista de Higienópolis, adoro um ar-condicionado. Na nossa cidade cenográfica não venta. Então a gente trabalha invariavelmente sob muito calor.
 
Terra - Vocês gravaram muitas externas no Pará também...
Gabriel -
Sim. E devo dizer que fiquei absolutamente deslumbrado com tudo o que vi ali. Gostei demais da Ilha de Marajó. No último dia, me agarrei a uma árvore e disse, "ninguém me tira daqui" (risos). É tão bonito, uma mistura diferente de floresta amazônica e praia nordestina. Fomos ainda a Alter do Chão, que tem um povo extremamente doce e educado. Eles têm uma espécie de ingenuidade ou pureza que é bem cativante.
 
Terra - Além do trato com os animais, o Carlos é também o filho perdido de Verbena, personagem de Ana Lúcia Torre. Você chegou a se inspirar em alguém ou alguma história parecida?
Gabriel -
Não. Eu tenho um pensamento que é o seguinte: novela a gente aprende fazendo. A gente descobre o personagem com o passar dos capítulos. É contracenando com a mãe, com a mulher que ele ama, com o inimigo, prestando atenção nos cenários, na relação com os animais, são nesses detalhes que o personagem vai aparecendo. Sempre tendo a achar que aquilo que você prepara ou faz em casa e leva para um set acaba te afastando do personagem de novela.
 
Terra - E, fisicamente, precisou fazer alguma coisa? Afinal, você mesmo citou a pele bronzeada...
Gabriel -
Não, eu evito mesmo fazer qualquer preparação para televisão. E, nesse sentido, foi muito importante começar a gravar lá no Pará. Não tinha como eu me preparar para ser um domador de búfalos, pois necessariamente faria alguma coisa errada. Foi mais real simplesmente chegar lá e domar um búfalo. É mais real do que ficar na minha casa imaginando e lendo como um domador de búfalos seria.
 
Terra - Como vocês chegaram ao visual do Carlos? Foi uma sugestão sua deixar o cabelo e a barba crescerem?
Gabriel -
Aconteceu naturalmente. Quando terminei a novela, fui para Nova York e decidi deixar crescer tudo porque assim, quando eu voltasse, teria material para trabalhar. É melhor ter mais do que ter menos - qualquer coisa é só cortar a barba e o cabelo e você está pronto. Então cheguei cabeludo e barbudo e o pessoal olhou para mim achando interessante. Todos começaram a enxergar o personagem e comprei essa ideia também.
 
Terra - A novela fala de espiritismo e você é ateu. Como funciona essa relação na sua cabeça?
Gabriel -
Aposto que essa vai ser uma história bonita e envolvente, que vai me trazer os elementos necessários para fazê-la de forma crível. Sou ateu, mas acredito muito na capacidade do texto da Elizabeth Jhin. Acho que há ingredientes muito fortes para envolver o telespectador brasileiro, cuja inclinação à fé é grande.
 
Terra - Nos últimos anos, você vem praticamente emendando uma novela na outra. Como se rendeu à televisão?
Gabriel -
É curioso isso porque, realmente, o que me levou a escolher a profissão de ator foi o teatro. Exclusivamente ele! Nem cogitava fazer TV. Ao longo dos anos, resolvi experimentá-la e começamos a viver uma história de cada vez mais envolvimento. Hoje em dia, é o meu veículo favorito. Prefiro fazer novelas a teatro ou cinema. Isso tem a ver com a vida dinâmica que uma novela nos proporciona. Eu, como um bom aquariano, me incomodava muito com a repetição, a rotina do palco. O dinamismo de gravar coisas diferentes a cada dia foi me contagiando. E também de poder fazer viagens tão diferentes, como quando fui à Sicília para Poder Paralelo e, agora, ao Pará. É, sem dúvida, o que mais gosto de fazer.
 
Terra - Foi isso que o fez assinar um contrato longo com a Globo? Afinal, você sempre disse qu
e preferia ficar livre para tomar suas próprias decisões na carreira. Gabriel - Pela primeira vez na minha história eu faço um contrato que não seja por obra, mas por tempo. E isso tem a ver, sim. Sempre prezei muito por minha liberdade e pelo meu poder de decisão. E sempre achei complicado ficar atrelado por anos a uma empresa sem saber exatamente o que iria fazer. Preferia dar um passo de cada vez. Neste momento da minha vida, após Insensato Coração, enxerguei na relação com a Globo um bom diálogo e capacidade de realização de trabalhos de qualidade. Me vi respeitado e valorizado, senti que tenho voz ativa e achei que era um momento bonito com a empresa, que merecia ser coroado com um belo contrato, exatamente como o que fiz.

Talento do berçoGabriel Braga Nunes cresceu cercado por referências teatrais. Filho da atriz Regina Braga e do diretor Celso Nunes, começou a frequentar o meio artístico desde muito novo e, provavelmente por isso, se interessou pela interpretação ainda criança. As primeiras aulas de teatro aconteceram na escola, quando tinha por volta de 13 anos e ajudaram muito o jovem na hora em que optou por fazer uma faculdade de Artes Cênicas. "Desde garoto, eu achava legal a vida do ator. Olhava para alguns e ficava impressionado, queria ser como eles", recorda ele, que fazia performances no bandejão da universidade onde estudava.
Fascinado por teoria e pesquisa, Gabriel estreou na TV em 1996, na novela Razão de Viver, do SBT, na pele do "bad boy" Mário. No ano seguinte, integrou o elenco de Por Amor e Ódio, na Record, fazendo logo em seguida o engomadinho Olavo de Anjo Mau, sua estreia na Globo. Começou a emplacar inúmeros outros trabalhos na emissora, como em Terra Nostra, Estrela-Guia e O Beijo do Vampiro. Mas ganhou prestígio e respeito na televisão após se tornar o principal nome do elenco masculino da Record, na qual protagonizou Essas Mulheres, Cidadão Brasileiro e Poder Paralelo, além de interpretar o vilão Taveira em Caminhos do Coração e em sua continuação - Os Mutantes. "Fiz bons trabalhos na emissora, grandes personagens. Cresci muito como ator e pude estreitar esse laço com a televisão", valoriza.
 
Em formaGabriel não se esforçou para ficar mais forte para interpretar um domador de búfalos em Amor Eterno Amor. Mas o ator assume que, depois de mudar seus hábitos para perder os 30 quilos ganhos na época de Cidadão Brasileiro, começou a mudar seu corpo. Para eliminar a barriga, se tornou adepto da corrida, chegando a disputar, no final do ano passado, a tradicional Corrida de São Silvestre, em São Paulo. "Estou me preparando para fazer, no segundo semestre, uma maratona. No Rio, a gente acaba correndo muito na esteira por causa do calor. Ou você levanta muito cedo ou tem de estar livre à noite. E nem sempre estou", explica.
 
Trajetória Televisiva
Razão de Viver (SBT, 1996) - Mário
Por Amor e Ódio (Record, 1997) - Lucas Toledo
Anjo Mau (Globo, 1997) - Olavo Ferraz
Terra Nostra (Globo, 1999) - Augusto Neves Marcondes
Uga Uga (Globo, 2000) - Otacílio
Estrela-Guia (Globo, 2001) - Guilherme Nunes
O Quinto dos Infernos (Globo, 2002) - Felício
O Beijo do Vampiro (Globo, 2002) - Victor
Kubanacan (Globo, 2003) - Vitor
Senhora do Destino (Globo, 2004) - Dirceu
Essas Mulheres (Record, 2005) - Fernando Seixas
Cidadão Brasileiro (Record, 2006) - Antônio Maciel
Caminhos do Coração (Record, 2007) - Taveira
Os Mutantes (Record, 2008) - Taveira
Poder Paralelo (Record, 2009) - Tony Castelamare
Insensato Coração (Globo, 2011) - Léo
Amor Eterno Amor (Globo, 2012_ - Carlos

Fonte: Terra

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- Léo (Gabriel Braga Nunes), Novela Insesato Coração