sexta-feira, 6 de julho de 2012

Gabriel Braga Nunes pauta sua carreira pela diversidade

 Geraldo Bessa - TV Press
   
Gabriel Braga Nunes não escolhe entre heróis e bandidos. Quer apenas que o personagem esteja distante de sua realidade. "É quando há possibilidade de criação. Se for parecido comigo não tem muito o que fazer", acredita o intérprete do espiritualizado Rodrigo, de "Amor Eterno Amor". Ciente do seu potencial para viver tipos díspares, Gabriel orgulha-se da sequência de papéis que tem acumulado nos últimos anos, como o dúbio empresário Antônio, de "Cidadão Brasileiro", de 2006 uma das cinco novelas que fez no período em que esteve na Record, de 2005 a 2010 , ou o mau caráter Léo, de "Insensato Coração", do ano passado, folhetim que marcou sua volta à Globo. "Concentrar minha carreira na tevê não é uma escolha sem critério. Faço isso   porque me sinto instigado com os convites que aparecem", conta o ator de 40 anos.

Paulistano, urbano e cético, para protagonizar a atual novela das seis, Gabriel teve de se transformar de corpo e alma. Primeiro aprendeu a montar em búfalos na Ilha do Marajó. Depois abandonou qualquer preconceito religioso para dar voz ao texto de tons espíritas de Elizabeth Jhin. "O personagem mudou muito ao longo da trama. Ele teve de se reinventar, deixar seu passado para trás e assumir uma vida que lhe foi tirada. Esse desenho da trajetória do Rodrigo me deixa bem feliz", valoriza.


P - Quando seu personagem descobriu que era o filho de Verbena, de Ana Lúcia Torre, e se chamava Rodrigo, a história de "Amor Eterno Amor" se transformou. Você sentiu alguma dificuldade de adaptar sua atuação para esse momento mais urbano e realista do papel?

R - 
A história escrita pela Elizabeth foi toda montada para esta transição. Eu me preparei para isso, mas mesmo assim, me surpreendi. É como se fosse um outro personagem. Quando ele chega ao Rio de Janeiro, começa a perceber a necessidade de se transformar em outro homem. Aprender a viver em uma sociedade, começar a adquirir certas convenções sociais para viver em um ambiente urbano. É bacana quando o personagem tem essas variáveis. Valoriza o trabalho.

P - Essa virada do personagem foi importante na hora de aceitar fazer "Amor Eterno Amor"?

R - 
É claro que, ao analisar a sinopse, isso me chamou a atenção. Achei que o Rodrigo era um personagem consistente e bem desenhado. Eu estava em uma sequência de novelas e personagens muito pesada, densa. Tanto na Record, com "Poder Paralelo", como na minha volta à Globo, em "Insensato Coração". Foram tramas que tocavam em temas impactantes. Chegou um momento onde eu queria me envolver com algo mais leve e "Amor Eterno Amor" tem essa "pegada". É uma história sobre a grandeza das pequenas coisas.

P - Sua carreira é marcada por mocinhos, bandidos e tipos ambíguos. Essa diversificação é uma meta para você ou acontece naturalmente?

R - 
É um pouco de cada coisa. A diversidade é muito importante para o trabalho do ator. Eu procuro, mas ela também simplesmente acontece. Eu não tenho preferência por fazer heróis ou vilões. Eu quero fazer personagens intrigantes, estimulantes, que gerem interesse em mim e nas pessoas. Mas na televisão a gente também funciona por convites, né? Quando eu estava terminando "Insensato Coração", o Rogério Gomes (diretor) me ligou. Ele disse que tinha um personagem que achava que iria curtir. Disse que ele e a Elizabeth (Jhin, autora) pensavam muito em mim e achavam que eu era ideal para o papel por causa do meu modo de olhar.

P - Como assim?

R - 
Eles me falaram que o personagem exigia em uma espécie de magnetismo que eu teria na minha forma de olhar. Ou na minha maneira de fazer as coisas. Para um sujeito misterioso ser chamado por todos de Barão, estando lá no meio da Ilha do Marajó, tinha de ter uma coisa diferenciada. Ele não era um matuto, um simples vaqueiro. Tinha de ter algo mais para receber esse apelido.

P - Sua última novela das seis foi "Estrela-Guia", de 2001. O clima e os temas abordados no horário o atraem?

R - 
Novelas das seis sempre têm uma um ar mais família, um andamento mais lento. No caso de "Amor Eterno Amor", é um trabalho que me dá uma certa calma, me faz observar mais as coisas dentro do estúdio, sentir essa questão de valorizar os detalhes. Muitas vezes, o trabalho do ator é guiado pela adrenalina. Pela ansiedade de chegar e fazer cenas arrebatadoras, típicas do horário das nove. Para fazer o Rodrigo, eu me pego pensando em como é bom respirar, prestar atenção em quem está à minha volta e dar valor a situações do dia a dia. Ele é um cara muito focado em uma "paz de espírito" cotidiana. Isso me deixa bem mais tranquilo para encarar um dia inteiro de gravações.

P - Seu personagem até hoje deseja encontrar Elisa, um antigo amor de infância. Na preparação para a novela, você chegou a se inspirar em alguma história sua ou de algum conhecido para encarar os dilemas do Rodrigo?

R - 
Existe uma coisa muito forte em relação ao primeiro amor. Acho que todo mundo lembra a primeira vez que sentiu uma coisa que pudesse chamar de amor ou paixão. A gente guarda esse registro. Eu brinquei outro dia no estúdio dizendo que todo mundo tem um primeiro amor. No meu caso, foram uns três ou quatro. Mas eu me lembro de todos eles (risos). 

P - Você ficou na Record por cinco anos e fez cinco novelas. Ao sair da emissora, em 2010, você disse estava cansado de fazer tevê. No entanto, desde que voltou para a Globo, no início de 2011, você já está em seu segundo folhetim. Voltou a se encontrar na televisão?

R - 
Eu já senti momentos de cansaço pelo excesso. Como em toda profissão, tem horas em que você faz algumas obras nas quais você não está tão envolvido. Isso é natural em qualquer trajetória profissional. Fiz coisas maravilhosas na Record, e que me deixaram muito satisfeitos. Mas tive a necessidade de dar um tempo, viajar, investir no lado pessoal. Quando surgiu o convite para fazer "Insensato Coração", vi que seria uma boa oportunidade de voltar aos estúdios. Nos últimos anos, eu tenho tido trabalhos de muito envolvimento.

P - Como você lida com trabalhos que não se revelam tão instigantes?

R - 
Cumpro o contrato e tento achar a motivação. Novela é rotina. Quando a equipe está satisfeita e integrada, tudo fica melhor! Quando a gente está feliz no trabalho, se adapta melhor ao roteiro de gravação, tem um relacionamento mais saudável com os colegas. Eu tenho gostado dos meus parceiros de cena e tido o prazer de acordar cedo para ir gravar. Me sinto um sortudo.

P - Sua origem é teatral e você está há alguns anos longe dos palcos. Tem planos de retomar essa parte da carreira?

R - 
Fico sempre nos planos. Tive personagens principais nas minhas últimas três novelas. Roteiro de protagonista é gravar seis vezes por semana, 10 horas por dia. E eu já estou com 40 anos. Para mim, é importante ter, nem que sejam duas horas, de vida pessoal durante o dia. É quando toco guitarra, saio para jantar com pessoas queridas, dou uma corridinha na praia. Me envolver com outros projetos seria ter mais assuntos profissionais para desenvolver. E quando fica só trabalho, eu começo a me sentir sufocado.

P - Você está focado na tevê e "Amor Eterno Amor" termina em setembro. Já existe algum novo trabalho para depois do Rodrigo?

R - 
Eu ainda não consigo enxergar o que posso fazer depois, pois estou muito ligado a essa novela. Estamos gravando direto e ainda temos uns dois meses de trabalho. Estou envolvido demais para prever ou me envolver em outro projeto. Na tevê, a gente lida muito com as circunstâncias. Talvez quando estiver próximo dos capítulos finais eu já tenha alguma posição sobre isso.


Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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#Pronto Morri


- Léo (Gabriel Braga Nunes), Novela Insesato Coração